Renovar não é inovar
Enquanto a renovação está ligada à manutenção e à inovação incremental, a inovação está ligada à inovação disruptiva.
Uma coisa é melhorar o que já existe, outra coisa é fazer de um jeito diferente.
As razões (desculpas) para não renovar
A cultura organizacional brasileira é sabidamente refratária à mudança.
Bons indicadores disso são os ditados populares:
“Não se mexe em time que está ganhando”
“Pra que fazer diferente se sempre fizemos assim e sempre funcionou?”
“O cliente não sabe o que quer”
E segundo Maquiavel, no livro O Príncipe, em 1515:
“Não há nada mais difícil e perigoso do que mudar a ordem das coisas. Quem o faz adquire a inimizade daqueles que se beneficiaram com a ordem antiga, e é defendido sem muito calor por todos os que seriam beneficiados pela nova ordem.
A falta de calor se explica pelo medo dos adversários e, em parte, pela incredulidade dos homens. Estes não acreditam nas novas coisas até que as experimentem.”
As organizações não são um ambiente favorável à inovação
Até existe um discurso enganoso de orientação à mudança, que na maioria das vezes não passa de teatro.
Um teatro da inovação, que sai caro e dá pouco ou nenhum resultado.
As organizações e as pessoas têm um verdadeiro horror a correr riscos e de fazer coisas diferentes daquilo que já fazem e já dominam.
Um bom sinal é que concursos de ideias são raros nas organizações.
E o normal é que boas ideias sejam atacadas de forma direta ou velada, sendo desqualificadas como piadas.
E você sabe que quem fica dando muita ideia é tratado pejorativamente no ambiente corporativo.
Vício de formação do nosso sistema educacional
Por que seres adultos tendem a ser comportar assim?
Porque o ambiente acadêmico que os formou também replica o passado e é refratário à mudança.
A academia adora a citação de teses e conceitos estabelecidos e tem muita dificuldade de entender e concordar com a criação de conhecimento e de algo novo e difícil de avaliar, porque não comprovado. Uma cultura de evitação do risco.
Assim, forma profissionais com base no conhecimento existente. Como pouco exercita a experimentação, não orienta os profissionais ao aproveitamento das oportunidades de mudança. Orienta ao presente em função do passado e do presente em uma lógica linear que não vale para o futuro.
Melhoria contínua e inovação incremental
A cultura da qualidade trouxe o conceito da melhoria contínua, de melhorar sempre e de evoluir sem limites.
Na prática, ela exige um grande esforço para melhorar pouco e, no limite, não piorar.
A inovação incremental decorrente não é suficiente.
Exemplos? As fabricantes que se destacaram no início da telefonia celular melhoraram muito seus telefones, mas não sobreviveram a um ponto de ruptura, o uso da tecnologia de toque com tela maior.
O lado irônico é que a tecnologia de toque já existia e foi aplicada pela Apple, que mudou toda a indústria.
Evolução, revolução e inovação disruptiva
Ciclos se extinguem, e junto deles as organizações.
O computador, a fotografia digital, a internet, o celular com toque e tela grande e sem teclado físico, são bons exemplos.
Antes deles havia a máquina de escrever, a fotografia com filme com produtos químicos e papel especial, o telefone físico e o celular com teclado físico. Eles deixaram de existir. Eram dominantes há poucos anos e agora são peças de museu.
Ciclos se sobrepõem. O carro elétrico hoje convive com o carro à combustão. Ambos têm vantagens e desvantagens, e vão conviver até o momento em que uma tecnologia seja superada.
A onda da robotização e da inteligência artificial
Quem é orientado à não mudança pode pensar que a robotização nos serviços é coisa nova, mas não é.
Desde que existe computador de grande porte (mais de 60 anos?) que uma conta de luz tem o fechamento mensal da fatura numa operação agendada para determinado dia. Isto é um robô.
Desde que existe cartão de crédito que a fatura mensal é fechada no dia agendado, num procedimento automatizado.
Com o débito automático na conta corrente, nenhum esforço humano direto é empregado e objetivo final é alcançado, de facilitar a vida das pessoas.
É preciso separar a navegação no mundo conhecido do mundo desconhecido
A robotização de processos no processamento de dados, agora chamada de Automação Robótica de Processos (RPA) é orientada à automação de procedimentos previstos e inflexíveis que eram realizados de forma totalmente desnecessária por humanos, desperdiçando conhecimento.
RPA, portanto, é intermediário e orientado ao conhecido, automatizando passos de processos conhecidos e rotineiros.
A inteligência artificial e o mundo desconhecido
Em inteligência artificial navegamos do mundo conhecido para o desconhecido.
Utilizamos modelos de aprendizagem supervisionada e não supervisionada.
No modelo supervisionado, indicamos para a inteligência o que procurar.
No modelo não supervisionado, a inteligência identifica novos padrões que talvez nem imaginássemos.
Um bom exemplo é você entrar agora na sua página inicial na Amazon.
Seu comportamento conhecido está lá. Mas tem também um tanto de sugestões de livros, filmes de produtos que possam te interessar.
O serviço público e o uso de inteligência artificial
O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou, sob a relatoria do ministro Aroldo Cedraz, levantamento com o objetivo de avaliar o estágio atual e perspectivas de utilização de Inteligência Artificial (IA) na administração pública federal (APF), identificar os riscos associados, conhecer os impactos para o controle e avaliar a proposta para uma Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA).
Mais de um terço (38%) das organizações federais estão no nível zero de maturidade em IA, ou seja, não utilizam e sequer planejam utilizar essa tecnologia exponencial.
Um outro terço da APF (33,5%) se encontra no nível 1. Isso significa que já estão tendo conversas internas sobre a inteligência artificial, mas de modo ainda especulativo.
por Joel Solon Farias Azevedo
Fundador da ProValore
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