Como superar os “anticorpos corporativos” e despertar o poder de inovação dentro das empresas
Durante meus 25 anos de vida corporativa, sempre me percebi com um perfil e comportamento um pouco diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.
Sempre tive uma natureza mais inquieta, insatisfeita, inconformada… E uma paixão por fazer diferente, inovar. Um “lado i” curioso e atraído por desafios.
Esse lado i, quase que organicamente, foi levando minha carreira na direção de posições e desafios em inovação, transformações digitais e novos negócios. A falta de respostas, que afastava uns, me atraía demais. Hoje sei que estava me formando e me tornando um intraempreendedor.
Com o tempo e a ascensão profissional, fui percebendo que os desafios haviam ficado cada vez mais parecidos — e as posições que ocupava, cada vez mais políticas e afastadas da realidade. Senti que precisava ativar meu lado i, novamente, mas dessa vez para fazer uma inovação diferente.
Precisava inovar a minha própria carreira, trocando o conforto e estabilidade dos ambientes corporativos pelo empreendedorismo
Sabia que não seria fácil. Era tudo desconhecido. Sentia uma grande e nova energia, quase na mesma proporção de um grande medo, por ter que saltar no desconhecido perto dos 50 anos.
por Alexandre Waclawovsky em resumocast.com.br
DA FARTURA À ESCASSEZ. OU: DO INTRAEMPREENDEDORISMO AO EMPREENDEDORISMO
Ouvi minha intuição e segui minha natureza, saindo de uma multinacional para atuar em uma startup de saúde mental de 13 pessoas. Uma startup mesmo: pequena, em formação, com tudo por fazer e ganhando 20% do que ganhava no mundo corporativo.
O cargo? Descobri rapidamente que não importa. Numa startup, os cargos são para quem olha de fora. Para quem está dentro, o foco é no desenvolvimento e crescimento do negócio.
Hoje, três anos após essa mudança, quando me perguntam a diferença entre intraempreender e empreender, já tenho a resposta na ponta da língua:
Enquanto o intraempreendedor tem pouca liberdade, cercado de processos e muitos recursos (humanos e financeiros), o empreendedor vive o exato oposto, com muita liberdade para pensar e fazer, mas poucos recursos à sua disposição. Enquanto o intraempreendedor vive num contexto de abundância, o empreendedor vive na escassez
E a escassez é uma grande professora, pois ela nos obriga a fazer escolhas duras e a operar em colaboração. A agilidade e a criatividade das startups vêm muito dessa escassez de recursos humanos e materiais.
Mas viver em abundância também traz seus desafios, acredite. Numa empresa estruturada existe uma competição grande de pessoas disputando recursos e poder. Formam-se alianças de interesses, silos e brigas pelo protagonismo e ascensão profissional.
A ABUNDÂNCIA E O CONFORTO SÃO INIMIGOS DA INOVAÇÃO
E é nesse contexto que um intraempreendedor precisa aprender a navegar. Uma empresa estruturada sempre terá mais dificuldades em lidar com o risco e o desconforto, afinal ela já foi segmentada em áreas e funções, além de mapeada por políticas e processos.
Se você está na base da pirâmide organizacional, não terá força ou poder de ação — apesar de muito espaço e vontade. A liderança no topo vive uma eterna disputa política de interesses e alinhamentos políticos, enquanto precisa garantir que o negócio atenda aos anseios dos acionistas
Aqueles e aquelas que estão no meio da pirâmide têm minha grande admiração, pois são eles que precisam gerir o ímpeto da base, enquanto negociam espaço nas agendas do negócio, junto ao topo.
Essa gestão organizacional é muito particular aos intraempreendedores, que precisam demonstrar altas doses de resiliência e energia — para, mesmo ao terem suas iniciativas derrubadas, conseguir se reerguer e tentar novamente.
Intraempreender é um exercício constante de gestão de frustração — mas com grandes conquistas pelo caminho
E não há como falar sobre intraempreendedorismo sem pensar em inovação. Assim, proponho uma reflexão sobre isso. Você sabia que o desconforto e a falha são os melhores amigos da inovação?
Sim, e é por isso que existe tão pouca inovação nas grandes empresas – especialmente naquelas dos segmentos da indústria e de bens de consumo.
RENOVAR É DIFERENTE DE INOVAR
Nessas grandes empresas, a inovação se confunde com a renovação, que se caracteriza pela extensão de linha de um produto, novos sabores ou odores, novas embalagens, entre outros — mas não pela disrupção.
Já nas empresas de serviços, a inovação se faz mais presente pela natureza e necessidade da evolução do modelo de negócios. Não mudar ou tomar riscos nesse segmento pode ser, muitas vezes, o maior de todos os riscos (Yahoo! e BlackBerry são ótimos exemplos de companhias que caíram nessa armadilha).
E caso você esteja coçando a sua cabeça agora, pensando em como diferenciar uma inovação de uma renovação, eu tenho um bom teste. Simplesmente declare a sua ideia a um grupo razoável de pessoas. Caso ninguém faça nenhuma objeção, pode acreditar, você está no território do “business as usual”, ou seja, da renovação
Por outro lado, caso você cause desconforto — que irá retornar com descrença, descrédito ou desencorajamento –, acredite: você entrou em algum território diferente.
CUIDADO COM OS “ANTICORPOS CORPORATIVOS”
Intraempreender é saber encontrar e promover conforto no desconforto das mudanças.
E frente aos desconfortos gerados, vão surgir os “anticorpos corporativos” — aquelas pessoas com a missão de destruir ou desativar iniciativas que coloquem em risco o status quo.
Todo intraempreendedor irá se deparar com esses “anticorpos corporativos” — que, se não forem tratados a tempo pela empresa, podem crescer e formar grupos e alianças com o objetivo de desarticular inovações e promover o medo da falha dentro da companhia
Intraempreendedores bem-sucedidos, geralmente, demonstram habilidades e comportamentos de uma liderança empática e anti-frágil, capazes de se adaptar e ler o contexto corporativo com assertividade, sendo capazes de alinhar diferentes perfis e comportamentos dentro de uma mesma empresa.
NÃO EXISTE FÓRMULA OU MANUAL PARA INTRAEMPREENDER
Um dos meus maiores aprendizados como intraempreendedor foi ter de descobrir que uma mesma fórmula de sucesso não pode necessariamente ser reaplicada em diferentes organizações.
Após nove anos liderando a transformação digital em uma empresa, acreditei já ter o mapa pronto. Mas, quando tentei reaplicar a mesma estratégia em outra empresa… Não deu certo.
O contexto e a cultura eram diferentes; a aversão ao desconforto, muito maior. Novamente, nem melhor ou pior que a anterior — apenas diferente. A companhia estava em um estágio de tolerância menor ao desconforto e que pedia, portanto passos menores.
Diz o ditado que “uma corrente tem a força de seu elo mais fraco”. Logo, cabe ao intraempreendedor identificar qual o grau de desconforto que a empresa tem tolerância para acolher — e, com base nisso, estabelecer seus movimentos e iniciativas.
Durante esses 25 anos, nunca tive um manual que me apoiasse no “quê” ou no “como” fazer. Sempre foi uma jornada de tentativas e erros. Sem fórmulas mágicas ou receitas prontas. Em vez disso, na prática foi um mestrado em soft skills, em liderança, gestão de projetos e pessoas.
Intraempreender não é um cargo ou função, e sim uma mentalidade. Há muitos intraempreendedores “desativados” dentro das empresas, e que com frequência vão buscar fora da companhia as respostas para inovar
Existe um poder enorme adormecido e escondido dentro das empresas. Colaboradores desativados por estruturas mal desenhadas, avaliações de desempenho que ressaltam as fraquezas e não as fortalezas, processos muito rígidos, lideranças com aversão ao risco e à falha…
Se você também é uma pessoa inquieta, insatisfeita, inconformada, inovadora e intraempreendedora, tenha a certeza de que não está só. Existem muita gente que pensa como você.
E quanto a ser um(a) empreendedor(a) ou intraempreendedor(a)… A escolha é sua. O autoconhecimento é, sem dúvida, uma das melhores alavancas para o sucesso profissional.
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