Os efeitos da adoção tardia de inovações no setor público
Historicamente, o serviço público tem mais resistência e mais dificuldade em adotar novas ideias e novas tecnologias, com alguns atrasos bem significativos em relação ao setor privado.
Esta resistência pode ser atribuída a vários fatores, incluindo a natureza burocrática do setor público, a maior aversão a riscos e também maior resistência à mudança por parte de seus integrantes.
Por Joel Solon Farias Azevedo
Fundador da ProValore
A curva da inovação
A curva de inovação, também conhecida como curva de adoção ou lei da difusão da inovação, é um modelo criado por Everett Rogers que descreve como as inovações se espalham ao longo de uma população.
Ela divide a população em grupos de adotantes, mostrando como diferentes pessoas reagem à introdução de uma nova ideia, produto ou tecnologia.

Inovadores – São os criadores e os primeiros a adotar uma nova ideia ou produto. Eles são geralmente orientados à experimentação e aos riscos a ela inerentes. Algo como uma cultura de que é preciso errar para acertar, o que vai totalmente contra a cultura de previsibilidade da burocracia, onde o erro não é tolerado.
Adotantes Iniciais – São os usuários experimentadores capazes de avaliar as soluções e ao mesmo tempo formadores de opinião que, ao expressarem sua satisfação sobre a inovação a tornam atraente e influenciam a adoção pela maioria inicial.
Maioria Inicial – Adotam a inovação após uma certa hesitação, depois de influenciados por seus pares que já adotaram e pela opinião dos adotantes iniciais.
Maioria Tardia – São mais cautelosos e adotam a inovação apenas quando ela se torna um padrão, somente depois que a inovação já é amplamente aceita.
Retardatários – São os últimos a adotar a inovação, muitas vezes apenas por necessidade ou pressão.
Fatores que contribuem para a adoção tardia de inovações no setor público
1. Burocracia e processo decisório lento e complexo – A estrutura hierárquica rígida e os processos de tomada de decisão no setor público podem ser lentos e complexos, dificultando a implementação de novas ideias.
2. Aversão ao risco e medo de responsabilização – Funcionários públicos que operam na logica burocrática da previsibilidade hesitam em adotar inovações por medo de falhas e possível responsabilização.
3. Resistência à mudança – A cultura organizacional no setor público é naturalmente conservadora, formada por pessoas que preferem a segurança dos métodos tradicionais e conhecidos às novas abordagens desconhecidas ou ainda não consolidadas.
4. Falta de recursos e infraestrutura – A falta de investimento em tecnologia, formação e infraestrutura pode dificultar a adoção de inovações no setor público.
5. Dificuldade em medir o impacto das melhorias – A avaliação do impacto das inovações no setor público pode ser complexa, o que dificulta a justificativa para investimentos e a tomada de decisão.
No setor público o abismo é ainda maior
O maior desafio da inovação está na transposição do abismo inicial para a adoção pela maioria inicial. E ele é ainda maior no setor público por conta da resistência ao novo.
Os maiores exemplos estão no lapso de tempo em relação ao setor privado na adoção de soluções simplificadoras como o processo eletrônico, a assinatura digital, a eliminação do papel e a ampla adoção do autosserviço permitida pela internet e massificação do uso do telefone celular.

Consequências da adoção tardia de inovação no setor público
São várias as consequências da adoção tardia, como a perda de eficiência, produtividade e qualidade dos serviços e consequentemente a avaliação negativa da imagem do setor público, já desgastada entre os cidadãos.
A falta de inovação pode levar à perda de eficiência, ao aumento de custos e à redução na qualidade dos serviços públicos.
1. Perda de competitividade – O setor público pode se tornar menos competitivo em relação ao setor privado, se não adotar as inovações necessárias para melhorar os serviços e atender às necessidades da população.
2. Aumento da desigualdade – A falta de inovação pode aumentar as desigualdades sociais, especialmente em áreas como saúde, educação e segurança pública.
Como promover a adoção de inovações no setor público
1. Simplificação de processos burocráticos – A criação de mecanismos mais flexíveis, eficientes e ágeis para a tomada de decisão e a implementação de projetos de inovação.
2. Incentivo à cultura de inovação – A promoção de uma cultura que valorize a experimentação, a criatividade e a busca por soluções inovadoras.
3. Investimento em capacitação e formação – A promoção de programas de formação e capacitação para os servidores públicos, para que possam estar preparados para lidar com as novas tecnologias e abordagens.
4. Monitoramento e avaliação do impacto – A implementação de mecanismos para monitorar e avaliar o impacto das inovações, permitindo a identificação de pontos fortes e fracos e a realização dos ajustes rapidamente.
5. Parcerias com o setor privado – A busca por parcerias com empresas e instituições do setor privado para facilitar a transferência de tecnologias e conhecimentos.
Estratégias de aceleração da inovação
A adoção tardia de inovações no setor público é um desafio complexo, que exige uma abordagem abrangente e a colaboração de diversos atores, bem além do marco legal existente.
A estratégia da transformação digital do serviço público precisa transferir o poder de solicitar serviços, obter informações e realizar transações online ou por outros canais automatizados para o cidadão, na forma de autosserviço.
A inovação em autosserviço no setor público refere-se à implementação de tecnologias e processos que permitem aos cidadãos interagirem diretamente com o governo, sem a necessidade de intermediação de servidores públicos, sem necessidade de deslocamento, sem enfrentar filas e principalmente sem perda de tempo.
O autosserviço por meio de canais digitais agiliza o atendimento e a prestação de serviços, reduz custos e ao mesmo tempo aumenta a transparência e promove a participação social.
As vantagens do autosserviço
1. Agilidade e Eficiência – O autosserviço permite que os cidadãos realizem procedimentos de forma rápida e eficiente, sem a necessidade de deslocamentos ou espera em filas.
2. Redução de Custos – A automação de processos reduz a necessidade de pessoal e recursos, resultando em economia para o governo.
3. Aumento da Transparência – A disponibilização de informações e processos online permite que os cidadãos acompanhem o andamento de suas solicitações e tenham acesso em tempo real às informações que lhe interessam.
4. Promoção da Participação Social – O autosserviço permite que os cidadãos, quando mais engajados, se envolvam de forma mais ativa no processo de tomada de decisão, por meio de consultas online, fóruns de discussão e outros mecanismos de participação.
5. Melhora da Experiência do Cidadão – Ao facilitar o acesso aos serviços públicos, o autosserviço contribui para a construção de uma relação mais próxima e positiva entre o governo e os cidadãos.
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