Como eu posso me tornar uma liderança mais colaborativa — e ter o reconhecimento por isso?
Em artigo, a professora associada da Fundação Dom Cabral Renata França Muniz argumenta a favor da colaboração entre líderes e liderados e dá 10 medidas para exercitar o tema no dia a dia
Derivada do latim, a palavra “colaboração” significa trabalho em conjunto:
ato ou efeito de colaborar
trabalho feito em comum com uma ou mais pessoas; cooperação, ajuda, auxílio
trabalho, ideia, doação que contribui para a realização de algo ou para ajudar alguém; auxílio
Original na Exame
Tendo como base nesses significados, podemos concluir que temos efetivamente uma disposição para apoiar, ajudar e servir?
Temos intenção genuína de impulsionar o desenvolvimento dos nossos times? Impactar positivamente um ecossistema gera realização profissional e pessoal?
Estas seriam as primeiras reflexões em direção a atuação colaborativa.
De forma bem pragmática, poderíamos ainda somar outras perguntas: Estamos dispostos a sair dos holofotes e deixar o time brilhar?
Quanto do nosso tempo estaria dedicado a formar novos líderes? Um propósito transformador, uma causa maior, seriam capazes de conquistar nosso empenho e dedicação?
Quando a liderança colaborativa passa a ser importante
Desde meados dos anos 70, quando surgiu o conceito do líder servidor, nas publicações de Robert K. Greenleaf, temos sido desafiados a experimentar essa abordagem.
Já nos anos 90, em complemento a este conceito, o best-seller O monge e o executivo, de James C. Hunter, apresentou caminhos de como servir equipes, as pessoas de forma geral, e quais os aprendizados dessas práticas.
Uma razão para a crescente importância da liderança colaborativa é a necessidade de formarmos novos líderes, ou ainda, acelerar o desenvolvimento da liderança.
Ainda nessa linha, a liderança colaborativa tem sido cada vez mais valorizada, por se mostrar mais efetiva na sociedade atual.
Novas gerações estão buscando ambientes mais leves, organizações conectadas com um propósito e líderes dispostos a servir e colaborar com todo o processo.
No contexto colaborativo, o líder assume uma responsabilidade de criar um ambiente no qual todos possam se desenvolver, aprender e alcançar resultados.
E gradativamente essa responsabilidade passa a ser compartilhada, ou seja, todos passam a zelar por este ambiente colaborativo.
A liderança colaborativa se apresenta como um caminho eficaz para gerar autonomia, empatia e autoconfiança.
Líderes colaborativos fortalecem as competências do seu time na medida que envolvem seus liderados nos processos de tomada de decisão.
A liderança colaborativa, portanto, está a serviço dos seguintes resultados:
- Desenvolvimento de novas lideranças.
- Desenvolvimento de habilidades e atitudes nas equipes.
- Agilidade e simplicidade nos processos.
- Crescimento coletivo e aceleração de conquistas.
- Estímulo à criatividade, novas soluções e inovações.
Como ter certeza de sermos genuinamente líderes colaborativos?
Revisite sua atuação como líder e identifique momentos significativos de colaboração.
Quais situações poderiam exemplificar atitudes colaborativas com times, pares e organizações?
Complementarmente, percorra também os nomes de líderes que fizeram parte de sua trajetória profissional e pessoal e identifique quantos destes poderiam ser qualificados como líderes colaborativos? Quais as características destes líderes?
Já fiz esse exercício algumas vezes e tenho a convicção que todos os líderes que convivi deixaram ensinamentos valiosos. E mais especificamente, posso encontrar em alguns deles uma forma de liderar que estava a serviço do desenvolvimento e sucesso da equipe.
Mais de 15 anos atrás, eu reportava a um diretor executivo que costumava fazer duas perguntas ao final de momentos de avaliação e feedback.
A primeira delas era: Como posso te apoiar?
E a segunda pergunta, ainda mais inusitada: Como eu não te atrapalho?
Confesso que, num primeiro momento, as perguntas me surpreenderam e eu não fui assertiva, faltou firmeza e transparência na minha resposta. E com muita sensibilidade esse gestor complementou: “Não precisa me responder agora, pense nisso e voltaremos a conversar”.
Nem preciso dizer que passei a replicar essas duas perguntas em diversas situações e ambientes com times e pares.
Entretanto, assim como não é fácil responder a estas perguntas, ouvir as respostas também exige abertura e maturidade.
Quais são as medidas para ser uma liderança colaborativa?
Não tenho a pretensão de esgotar o tema, até porque a colaboração tem um efeito multiplicador e novos aprendizados vão sendo sempre acrescentados. De qualquer forma, gostaria de colaborar com uma lista preliminar com 10 pontos relevantes para a jornada de construção de uma liderança colaborativa:
- Seja coerente, honesto consigo mesmo e com os demais — o clássico walk the talk, fazer o que se fala.
- Seja um gestor maduro e, se necessário, procure endereçar suas inseguranças e fragilidades com ajuda profissional.
- Construa um ambiente no qual o time tenha segurança psicológica.
- Invista tempo para conhecer sua equipe, suas competências, suas preferências, suas ambições e sonhos.
- Esteja disposto a compartilhar seus saberes, suas experiências – compartilhar acertos e fracassos é base para gerar colaboração.
- Seja um líder disponível, aberto a novas conversas, novos assuntos e novas perspectivas.
- Demonstre compromisso com os resultados de todo o ecossistema.
- Vá além das fronteiras organizacionais influenciando colaboração entre fornecedores, parceiros e clientes.
- Esteja a serviço de uma causa, de um propósito organizacional.
- Estimule o lifelong learning, um aprendizado continuado em ciclos contínuos de aprender e desaprender; aprender e desaprender e assim sucessivamente.
Por fim eu diria que o processo colaborativo é contagiante, ele começa gerando resultados pontuais e vai gradativamente reverberando para outros times e outros ambientes e alcança todo ecossistema.
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