Liderança Remota: Impactos, desafios e como fazer a gestão
Como exercer a liderança remota diante dos desafios atuais no mundo corporativo?
De fato, pode não ser tão simples acompanhar a rotina produtiva dos colaboradores quanto no formato presencial.
A necessidade de adequação à nova realidade do trabalho à distância, impulsionada pela pandemia, impõe uma série de obstáculos.
Eles surgem, principalmente, para garantir uma comunicação assertiva e oferecer todo o suporte possível, além de manter o desempenho em alta.
Para se ter uma ideia do impacto provocado por essa mudança de paradigma, a Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise Covid-19 indicou que pelo menos 46% das empresas adotaram o teletrabalho como estratégia no início de 2020.
Isso considerando o home office como uma estratégia nova, não utilizada por elas até então.
Diante desse cenário, é compreensível ter dúvidas quanto ao trabalho de gestão e liderança remota.
Por isso, neste artigo, vamos tratar o tema com a profundidade que ele merece.
Original no blog da FIA
Estes serão os tópicos abordados na sequência:
O que é liderança remota?
A liderança remota em tempos de pandemia
O papel dos líderes em meios a mudanças dos meios de trabalho
Como funciona a liderança remota?
Quais são os pilares da liderança remota?
Quais são os principais desafios da liderança remota?
Como liderar de forma remota?
O que é liderança remota?
A liderança remota é um modelo de gestão de pessoas adaptado às jornadas de trabalho mais flexíveis observadas no home office – formato cada vez mais comum desde a Covid-19.
Ou seja, trata-se de uma atualização imprescindível para as empresas que desejam acompanhar a realidade do momento.
A ideia é que os gestores continuem desempenhando as mesmas funções e cumprindo com as suas responsabilidades de sempre, porém aplicadas a um contexto distinto.
É como dizem Kevin Eikenberry e Wayne Turmel na frase inicial do seu livro The Long-Distance Leader: Rules for Remarkable Remote Leadership (O Líder de Longa Distância: Regras Para Uma Liderança Remota Notável):
“Liderar remotamente uma equipe é, antes de tudo, liderança, e os princípios de liderança não mudaram; são princípios.”
A liderança remota em tempos de pandemia
Muito mais que um jogo de palavras, a frase de efeito de Eikenberry e Turmel leva a uma reflexão importante: o papel primordial do líder não muda em função do contexto em que sua liderança é exercida.
É claro que a distância física impõe uma série de novos desafios, o que torna o papel desses gestores ainda mais imprescindível.
Não à toa, 60% dos executivos consideram as práticas de liderança remota fundamentais para a melhoria da produtividade e da eficiência nas empresas durante as rotinas de teletrabalho, segundo a pesquisa É Possível Conciliar Home Com o Office da ISE Business School.
O papel dos líderes em meio a mudanças dos meios de trabalho
Quem acredita que a importância dos líderes está dando lugar a habilidades como a autogestão de cada colaborador, por exemplo, está enganado.
A competência da própria equipe em gerir melhor seu tempo, elencar as reais prioridades e organizar a rotina produtiva é, de fato, fundamental no contexto atual, mas isso não diminui o papel das lideranças.
Cabe a esses profissionais garantir, por exemplo, a manutenção da cultura organizacional da empresa, mesmo com a equipe à distância.
A missão e os valores não podem se perder por uma questão geográfica.
Para dar conta de cumprir esse objetivo, Jason Wingard, uma das principais referências no desenvolvimento de liderança, aprendizagem profissional e gestão de capital humano, reforçou a importância dos “3C ‘s”: clareza, comunicação e conexão.
Segundo ele, essas são as principais variáveis que definem o papel das lideranças remotas.
Clareza
Os limites, assim como as metas, precisam estar muito bem definidos e alinhados para que não haja nenhuma quebra de expectativa, tanto de um lado quanto de outro.
Além disso, cabe aos líderes definir e apresentar novas métricas de avaliação, uma vez que não é mais possível analisar desempenho por carga horária de trabalho, por exemplo.
Comunicação
O contato entre as lideranças e suas equipes no teletrabalho deve ser ainda mais próximo.
Não apenas para fins documentais e agendamento de reuniões, mas também para passar e receber feedbacks.
Esse tipo de comunicação costuma dar resultado.
Segundo estudo da Harvard Business Review, 46% dos colaboradores remotos avaliaram de forma positiva aqueles supervisores que estão constantemente trocando mensagens e interagindo.
Conexão
Talvez esse seja o ponto mais importante da nova rotina: garantir que o colaborador entenda que não está sozinho e desamparado, mesmo trabalhando sozinho, a partir de sua própria casa.
Investir em videochamadas pode ser uma ótima solução para diminuir a sensação de distância física e afetiva, como sugere pesquisa recente do Google.
Como funciona a liderança remota?
Todo o esforço de uma liderança remota deve estar justamente direcionado a fazer com que a distância física não se torne um problema.
Para isso, os gestores precisam desenvolver uma série de habilidades, como flexibilidade e adaptabilidade, por exemplo, para tentar ao máximo transformar a casa dos colaboradores em uma extensão dos escritórios.
Assim, eles vão conseguir desenvolver um ambiente propício para o trabalho, pautados por valores como os que mostraremos a seguir.
Quais são os pilares da liderança remota?
Se você quer ser um bom líder remoto ou contar com um bom profissional para desempenhar essa função com qualidade, alguns preceitos devem ser seguidos, dentre os quais merecem destaque:
Comunicação
Já citada como um dos 3 C’s, a comunicação é tão fundamental no contexto de trabalho remoto que merece ainda mais atenção.
Não à toa, Eikenberry e Turmel, em sua obra do O Líder de Longa Distância, falam da importância de saber entender qual é a melhor maneira de manter contato com os colaboradores e suas respectivas áreas.
Os autores comentam que nem sempre o caminho é adotar uma estratégia de troca constante e sistemática, pois alguns funcionários podem se sentir desprestigiados por acharem que existe uma falta de confiança no trabalho deles.
Ou seja, é preciso conhecer muito bem a equipe para encontrar o melhor jeito de se comunicar com cada integrante.
Confiança
A confiança é outro pilar fundamental para o sucesso de uma liderança remota.
Essa relação parte de uma construção e precisa ser praticada diariamente.
Muita gente se pergunta como é possível fiscalizar um trabalho sem poder acompanhá-lo de perto.
A resposta está justamente em dar crédito aos colaboradores do seu time e se apoiar no profissionalismo deles.
Existem maneiras de colocar à prova essa confiança.
Eikenberry e Turmel acreditam que tudo se baseia em diretrizes claras e propósitos bem definidos.
Por exemplo, na hora de delegar uma tarefa, é imprescindível delimitar prazos para o cumprimento de cada etapa e, se possível, também estabelecer uma rotina de feedbacks para explicar o andamento das atividades.
Autonomia
Encontrar o equilíbrio entre a autonomia e a disciplina é um dos grandes desafios de uma liderança remota, mas é possível encontrar esse meio termo.
De certa forma, esse pilar foi mencionado no primeiro tópico ao falarmos de comunicação e é natural, pois eles estão intimamente ligados.
No livro sobre O Líder de Longa Distância, os autores falam do cuidado para não praticar a microgestão, que é, basicamente, aquele papel de querer fiscalizar tudo o que os profissionais fazem.
Isso não é uma atitude positiva.
Os colaboradores, para atingirem um bom desempenho, precisam de um certo nível de independência.
Ninguém gosta de se sentir vigiado 100% do tempo.
Responsabilidade
Os deveres e as obrigações dos funcionários de uma empresa não mudam pelo fato de estarem trabalhando de casa ou do escritório.
O trabalho remoto pode dar uma sensação de maior flexibilidade maior, o que é natural e não está errado, mas essa característica não pode dar lugar ao relaxamento ou à procrastinação.
Por isso, é um pilar dos líderes à distância relembrar a importância de manter a responsabilidade em dia, independentemente se líder e liderados estão ocupando o mesmo espaço físico ou não.
No livro, os autores falam da liderança dos “3 O’s”, que são os outcomes (resultados), others (outros/equipe) e ourselves (nós mesmos/lideranças).
A ideia, ao estabelecer esse tipo de relação, é dizer que ambas as partes (equipe e gestores) precisam se responsabilizar por suas ações para que os resultados apareçam.
Empatia
Embora a mudança para o teletrabalho tenha tido a aprovação de 80% dos gestores, segundo a pesquisa do ISE, é inegável que se trata de uma transformação significativa, que pode trazer os mais diferentes impactos na rotina de cada um.
Em função disso, é fundamental que os líderes pratiquem a escuta ativa e sejam empáticos para ouvir as questões trazidas pelos colaboradores e buscar, de forma rápida e assertiva, resolver essas demandas.
É um exercício de se colocar no lugar do outro e, diante desse cenário de incertezas profissionais, procurar ser uma voz apaziguadora.
Quais são os principais desafios da liderança remota?
A mudança nos meios de trabalho também traz desafios específicos para a liderança remota resolver.
Listamos abaixo algumas das dificuldades mais comuns nesse novo contexto.
Falhas da comunicação
A distância física faz com que as falhas da comunicação se tornem mais comuns.
Afinal, não existe a possibilidade de conversar olho no olho ou interpretar a linguagem corporal para ser mais assertivo na mensagem.
Para que ruídos não aconteçam, é fundamental tentar ser o mais didático possível na troca de e-mails ou na explanação via ligação ou videochamada.
Aliás, se puder escolher, sempre opte por aquele canal mais instantâneo e que diminui as chances de interpretações equivocadas.
Ou seja, ao invés de escrever uma mensagem extensa e repleta de detalhes, às vezes, vale mais a pena tentar uma conversa por telefone mais dinâmica.
Dificuldade de adaptação
Nem todo mundo se adapta com facilidade à rotina do trabalho remoto.
Algumas pessoas sentem falta do ambiente profissional, de trocar informações com os colegas e, até mesmo, da disciplina de ter que cumprir um horário fixo.
Há ainda aqueles que sofrem por ter dificuldades em gerir seu tempo de forma assertiva e definir prioridades quando não há ninguém apontando direções.
Em todos esses casos, o líder precisa ser atuante de forma a atacar esses problemas rapidamente, para que eles não atrapalhem na perseguição das metas organizacionais.
Manter a produtividade da equipe
O clima de competitividade saudável, presente em muitos ambientes organizacionais, é um verdadeiro incentivo para a produtividade da equipe.
A performance positiva de um puxa para cima o desempenho do outro, e isso faz com que os objetivos diários sejam superados com maior facilidade.
Quando os profissionais deixam os escritórios e passam a trabalhar de suas casas, é comum que um pouco dessa sinergia desapareça.
Afinal, as pessoas não estão se vendo e se ouvindo com a mesma facilidade e frequência.
Além disso, o lar de cada um é repleto de distrações que não estão presentes nas empresas.
Não à toa, para 23% dos executivos, estabelecer fronteiras entre trabalho e vida pessoal é a principal dificuldade do home office, de acordo com o já citado estudo da ISE.
Dar suporte
Todo profissional gosta de receber suporte, pois é uma das maneiras que ele tem de saber se está indo pelo caminho certo ou se precisa fazer algumas mudanças no percurso.
No entanto, à distância, esse tipo de apoio pode ficar menos personalizado e ser menos assertivo que o necessário.
Cabe aos líderes, portanto, encontrar ferramentas para garantir esse acompanhamento mais próximo, seja por meio da tecnologia ou mesmo de feedbacks mais frequentes.
Como liderar de forma remota?
Agora que você já conhece os principais pilares e os desafios que a liderança remota precisa superar diante dessa nova realidade de trabalho, separamos cinco dicas que podem ser muito úteis na gestão de pessoas mesmo à distância.
Use ferramentas de gestão
A tecnologia está à disposição para facilitar alguns processos da liderança remota.
As diferentes ferramentas de gestão oferecem soluções que ajudam na organização de tarefas, gestão do tempo, criação de métricas e relatórios de desempenho, comunicação e muito mais.
O segredo é fazer da transformação digital uma aliada e não uma barreira.
Mantenha um bom relacionamento com a equipe
A distância não pode prejudicar o bom relacionamento com a equipe.
Um bom líder precisa, de algum jeito, aproximar os membros do time e fazer com que eles trabalhem em conjunto.
Para isso, os autores do livro O Líder de Longa Distância incentivam os encontros virtuais frequentes.
Outra saída pode ser realizar dinâmicas digitais inclusivas, que contem com a participação de todos, como o hackathon, por exemplo.
Oriente a equipe
Ainda que a autogestão seja um aspecto importante no sucesso do trabalho remoto, é inegável que as equipes precisam de diretrizes a seguir.
Cabe ao líder realizar essa orientação e deixar claro quais são os prazos a serem respeitados e o papel de cada colaborador para que os objetivos sejam atendidos.
E lembre-se também que a orientação é uma via de mão dupla.
O time também tem voz e precisa ter suas dúvidas sanadas e sugestões ouvidas.
É como Eikenberry e Turmel definem em sua obra: tão importante quanto apontar direções é ter a certeza de que elas estão sendo bem compreendidas.
Defina as prioridades
Para não correr o risco de ter sua rotina profissional atrapalhada pelas distrações que o teletrabalho pode oferecer, é muito importante ter prioridades muito bem definidas.
Nesse sentido, uma máxima muito usada nesse contexto de liderança remota diz que mais importante do que traçar metas é cumpri-las.
Ou seja, estabelecer muitos objetivos pode ser contraproducente e dispersar o foco, em vez de ajudar.
Dê feedbacks
Manter o bom relacionamento com a equipe, saber orientar e definir prioridades.
Todas essas dicas podem ser contempladas a partir de uma iniciativa simples, mas que nem sempre é bem utilizada no trabalho remoto, o feedback.
Para ajudar a estabelecer retornos assertivos como uma prática recorrente e parte da cultura organizacional, John Eads, especialista em desenvolvimento de lideranças e autor do livro “Building the Best: 8 Proven Leadership Principles to Elevate Others to Success”, sugere três perguntas que todo líder deve fazer à sua equipe em teletrabalho semanalmente:
O que você fez?
No que você está trabalhando?
Onde você precisa de ajuda?
Segundo Eads, esses três questionamentos mágicos, quando abordados em reuniões, fazem com que se compartilhe responsabilidades e se vá direto ao ponto, sem rodeios.
Conclusão
As lideranças nunca vão deixar de exercer um papel imprescindível dentro das organizações, mesmo no contexto de trabalho remoto.
O que cabe a esses gestores é estar em constante atualização e buscar aprender com os desafios que essa nova realidade impõe.
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