A expansão do trabalho virtual está acelerando a inovação

O tempo de pensar que inovação requer proximidade física acabou. Os inovadores estão adotando um novo modelo.

Apesar dos transtornos causados pela pandemia de COVID-19 — e em parte por causa deles — inovação e digitalização vêm acontecendo em um ritmo recorde. Uma pesquisa da McKinsey com altos executivos em todo o mundo apontou que as empresas aceleraram a digitalização de operações internas, de clientes e de cadeias de suprimento em uma média de três anos.

Original na McKinsey.com.br

De fato, ao longo dos últimos dois anos, países em todo o mundo registraram recordes de aberturas de novos negócios, registros de novas patentes, investimento em capital de risco, e mais. Os dados estatísticos de abertura de empresas do US Census Bureau que foram atualizados periodicamente mostram que, durante 2021, um recorde de 5,38 milhões de solicitações foram preenchidas para abertura de novos negócios — um aumento de mais de 50% sobre 2019 pré-pandemia. O ritmo acelerado significou que houve cerca de 409.000 mais inscrições nos Estados Unidos em 2021 do que na mesma época em 2019 pré-pandemia. Os Indicadores de Propriedade Intelectual Mundial (World Intellectual Property Indicators) também mostraram que o movimento global agregado de inscrições em 150 entidades cresceu em 2020, mesmo no meio da crise sanitária mundial. Os fluxos de capital de risco também dispararam: em 2021, o capital de risco global mais que dobrou desde 2020, crescendo 111%.

O surpreendente sobre esses avanços significativos é que eles, em grande parte, envolvem pessoas colaborando remotamente, utilizando tecnologia de diferentes formas, e sendo mais ousados com inovação, automação e digitalização do que nunca antes. Por décadas, a proximidade física foi considerada essencial para inovação bem-sucedida. Em um livro influente de 1977, o professor de administração Thomas Allen descreveu uma forte correlação negativa entre distância física e frequência de comunicação, descobrindo que as pessoas estão quatro vezes mais propensas a conversar regularmente com alguém a seis pés de distância do que com outro a sessenta pés de distância, e que as pessoas quase nunca se comunicam com colegas em andares ou prédios diferentes.

Esse mantra da proximidade guiou desde layouts de escritórios a planejamento urbano. Cidades como Boston (com muitas contrapartes em todo o mundo) tentaram incentivar a inovação criando distritos onde o meio acadêmico, organizações de pesquisa, start-ups e investidores trabalham lado a lado em “ecossistemas de inovação” intencionalmente projetados. Reunir solucionadores de problemas para encorajar a troca criativa de ideias, experimentação e colaboração informal também é fundamental para um dos oito fundamentos de inovação da McKinsey.

Embora as medidas relacionadas à pandemia tenham impedido o desejado encontro casual nos espaços físicos de trabalho, tornando difícil replicar virtualmente as conversas no café e interações improvisadas de soluções de problemas, elas levaram a uma ampla adoção de ferramentas de videoconferência e colaboração virtual. Rede de contatos organizacionais e análises cooperativas também permitiram que empresas inovadoras ajudassem os funcionários a criar e sustentar os laços necessários para gerar novas ideias. Como resultado, as organizações têm, nas palavras do autor Steven Johnson, “ampliado o leque de mentes que podem trazer e compartilhar boas ideias” — um ingrediente vital para inovação. Ao conectar pessoas em redes virtuais mais amplas, a pandemia aumentou a velocidade e criatividade coletivas de iniciativas de inovação.

É provável que trabalho e locais de trabalho flexíveis vieram para ficar, especialmente para organizações que buscam manter ou aumentar esse ritmo acelerado de inovação. Mais da metade dos funcionários corporativos e públicos dizem que gostariam de trabalhar de casa pelo menos três dias por semana, e o número é ainda maior para talentos de inovação, como programadores. Flexibilidade de localização se tornou uma expectativa real para este último grupo. Ao invés de ver isso como um obstáculo, as organizações que buscam inovar estão dobrando a aposta nos benefícios que novas abordagens à inovação apresentam.

Diversidade e inclusão

Inovadores reconhecem que mais diversidade e maior inclusão, tanto dentro das equipes quanto na liderança, geram mais e melhores resultados de inovação. Um estudo recente da McKinsey revelou que empresas com mais diversidade étnica e racial têm performance 36% melhor que seus pares menos diversificados quando se trata de metas financeiras. Como resultado, os inovadores estão explorando o trabalho virtual para atrair talentos mais especializados e diversos e estão construindo forças de trabalho mais inclusivas. Uma start-up recém-lançada que rapidamente alcançou status de unicórnio mudou para um modelo preferencialmente virtual, reconhecendo que os talentos específicos de inovação que seu negócio exige não estavam disponíveis em nenhuma grande cidade.

Produtividade

Inovadores também reconheceram que equipes virtuais, especialmente quando gerenciadas de forma eficaz, podem evitar distrações desnecessárias, ter um fluxo de trabalho mais efetivo e ininterrupto, e alcançar ganhos de produtividade. Em um estudo de 2021, 83% dos funcionários que trabalhavam remotamente concordaram que suas casas permitiam que trabalhassem produtivamente — uma proporção maior que em um escritório comum (64%) e até mesmo que em locais de trabalho excepcionais (78%). Uma empresa de tecnologia inovadora iniciou recentemente o “agrupamento por fuso horário,” a prática de estruturar estrategicamente equipes virtuais para alavancar positivamente as diferenças de horário e assim acelerar as iniciativas de inovação.

Centralidade no Cliente

Talvez paradoxalmente, um ajuste feito em função da pandemia da COVID-19 permitiu a muitas organizações chegar mais perto fisicamente de seus clientes, já que a contratação não está mais atrelada à localização geográfica. Uma plataforma de pagamento global, por exemplo, lançou uma plataforma de engenharia remota durante a pandemia, contratando engenheiros de uma gama de locais e culturas distintos. Um ano após a iniciativa, a empresa relata se sentir “mais próxima dos clientes — porque nós literalmente estamos.” Da mesma forma, um órgão do governo agora descreve estar mais centrado no cidadão devido à contratação de funcionário que vivem e trabalham por todo o país, não apenas na capital.

Estar próximo do cliente, ao invés de estar em um escritório físico, pode ajudar os talentos de inovação das organizações a evitar a câmara de eco corporativa e identificar e testar novas ideias mais rapidamente. Aproximar-se de comunidades-alvo também está mais fácil do que nunca em função da proliferação dos locais de coworking e outros “locais terceirizados” para trabalhar e se conectar.

Estar próximo do cliente, ao invés de estar em um escritório físico, pode ajudar os talentos de inovação das organizações a evitar a câmara de eco corporativa e identificar e testar novas ideias mais rapidamente.


A pandemia deixou claro que falta de proximidade física não deve impedir a inovação — na verdade, pode impulsionar —mas esse não é um fenômeno novo. Embora possa ser uma surpresa para alguns, inovar de forma ousada através de colaboração remota tem sido um desafio na comunidade científica por décadas. Nos anos 1980, pesquisadores adotaram uma maneira de trabalhar chamada “collaboratory,” um espaço virtual onde cientistas interagem com colegas, compartilham dados e instrumentos, e colaboram sem se preocupar com a localização física. Entre os avanços alcançados com a colaboração virtual estão o Projeto Genoma Humano e o projeto ATLAS no CERN, que envolveu 1.800 microfísicos em 34 países.

Mais recentemente, inovadores fora da esfera científica adotaram essa abordagem. Criptomoedas e plataformas de metaverso foram desenvolvidas em grande parte através de colaboração descentralizada envolvendo pessoas de todo o mundo. As mudanças relacionadas à pandemia simplesmente expandiram-se no modelo de forma acelerada, notavelmente o desenvolvimento recorde das vacinas contra COVID-19 e uma série de novas empresas e produtos lançados ao longo dos últimos 24 meses.

Se a época de pressupor que inovação demanda proximidade física ficou para trás, com empresas inovadoras adotando amplamente equipes virtuais e o papel da tecnologia, o que vem em seguida? Um executivo que lidera um grupo de inovação de 50 pessoas dentro de uma organização de 15.000 funcionários disse: “A pandemia nos fez perceber que nós nunca precisamos de um estúdio requintado e caro de inovação para fazer o nosso trabalho. O que nós queremos é comunidade.” Seu plano é tornar o trabalho virtual permanente, com reuniões presenciais mensais ou trimestrais para fortalecer a confiança, amizade e conexão.

Quantos inovadores vão adotar essa abordagem?

Unir o melhor da combinação entre práticas remotas e experiências presenciais irá acelerar ainda mais a inovação?

Vamos começar a experimentar para descobrir.

Sobre os autores

Federico Berruti e Alex Morris são sócios da McKinsey no escritório de Toronto, onde Gisele Ho é gerente sênior; Phil Kirschner é expert sênior no escritório de Nova York, onde Sophie Norman é gerente sênior; e Erik Roth é sócio sênior no escritório de Stamford, Connecticut.

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